A única coisa que o interessava e só o que lhe aplacava
o espírito era estar perto de qualquer planta ou um vaso de xaxim
Sabemos todos que o golpe do que nos toma a força é o que põe em cheque a capacidade de auto-apreciação. Não há uma solução, e o desastre é iminente. O sentimento de certeza tende sempre ao seu próprio fim. A tensa preocupação com os tons, estilos e jogos de luz e sombra que regem o percurso - o que há de mais importante afinal - refletida em unhas carcomidas, pedaços do corpo fugindo pelo casco cabeludo, ou um jeito de se postar a frente do espelho, mórbido e estranhamente em outra dimensão, é o que torna necessário o isolamento.
O dia do isolamento, como o dia da tristeza, ou aquele em que tudo tende ao sublime (este último o melhor dos humores) é a defesa ao esfacelamento da estética da existência, a sua carga que se torna insuportável, a economia de libido que demanda, e que pode ser violentamente restritiva como o cerco a Leningrado.
E esses dias especialmente, que podem se dar a despeito da presença acolhedora de seus amigos, de seus pais ou de seu magnífico amante-outra-vez-passageiro, serão dolorosamente vividos, a não ser que exista por perto uma combinação físico-química cientificamente comprovada em laboratórios de Varsóvia: a presença suntuosa de uma árvore ou de um jardim muito úmido, num tom esverdeado escuro, e a aproximação de seu corpo com a madeira viva ou com um vaso de xaxim.
O úmido árboreo é o bálsamo mais eficiente para o doloroso e apropriado dia do isolamento. Dia apropriado porque isola a normalidade e traz a tona o que possivelmente acreditávamos morto e sepultado. Nesse dia heiddegeriano especialmente, você pode ter uma imagem de si daqui a dez anos, saber que aquele seu corpo o perseguirá até lá e ter o close up de seu rosto levemente envelhecido, mas muito digno. Algo como: "Baden Baden, Alemanha, dez anos depois".
Seu rosto ali, marcado, isolado no meio da multidão, só, porque não há como escapar da solidão de uma estética perfeita, e seu corpo dono outra vez do controle, através da bucólica conexão com um xaxim... Mais ou menos o que pressente um epiléptico antes do episódio convulsivo ou o espelho perfeito de si mesmo que visualizamos durante a experiência hiper-consciente do dejá-vu.
A partir desse dia, os afetos tornam-se mais uma vez manipuláveis, contraste da sombra (ou da luz) com o som que só as árvores emitem. E se nessa hora você projetar sua sombra, que é mais fácil, ou a sua luz - o que é um grande sacrifício pra qualquer um - sobre quem quer seja, dessa coisa poderá arrancar um afeto elegante: o mais valioso tesouro da experiência superior. Se a esta ação, associo um tom melódico, que pode ser tanto minha voz, quanto substâncias de expressão muito primitivas, posso obter o resultado assombroso muito semelhante à fruição com uma obra de Desiree Dolron.
Minha presença passa a ser extática por dois segundos quase.
In the secret garden lies my death and the erotic energy of my body.
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