O oposto do Kitsch

O oposto do Kitsch

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

A noite de São Bartolomeu

Eu estou apaixonado por um protestante. E comecei a ler Schopenhauer ontem à tarde quando chovia. Não era um texto difícil, porque geralmente dizem que é difícil. Não era negativo ou profundo. Era somente um texto sobre eruditos. Que os verdadeiros eruditos nunca têm tempo para ensinar, e que para eles o conhecimento é um fim e não um meio. Mas o que importa, da reunião dos dois fatores, que se chocam irremediavelmente: Schopenhauer e o protestante, é que ambos apontam para a minha vida sem mim, aliás, para a minha vida, antes de mim. Eu não seria capaz, quando consciente e cheio de identidade, de amar um protestante do interior, Luterano, e que expressa palavras como Paraíso e Inferno, tão próximas uma da outra. Por outro lado, sempre evitei ler Schopenhauer, porque existem clichês em torno dele, que o apontam como perigoso e sombrio. Aprendi a amar Schopenhauer e o protestante, sem sofrimento, embora saiba que será inevitável. E descobri também, que sou um pouco sombrio, quando não questiono um sentimento que vai me deixar paralisado, que vai me afastar do tipo de vida que levo, e que vai fender minha cultura. A alma sombria dos poetas e dos protestantes me atraiu, e eu acredito na nobreza dessa escuridão, como se fazia no meio do século XIX. Acreditando que sejam nobres essas almas atormentadas, longe de seus espetaculares clichês. Amo Goethe e Freud, e raramente amei protestantes, mas hoje acabo de pensar que é possível. Não porque o mundo seja heterárquico ou fragmentado, mas porque recebi uma mensagem no celular, de um protestante, perguntado sobre o que poderia ser feito. - Sabendo de sua pouca familiaridade com universos como o dos revolucionários, dos hippies ou dos emocores, perguntei se poderia responder pessoalmente. E encomendarei sua alma ao demônio se resolver fender a sua cultura com palavras. Isso é possível.
Acredito que haja ciência por trás disso: chuva, um pouco de Schopenhauer e um protestante que aparece do nada, na casa de um amigo seu que você não vê a tempos. O resultado será um afeto estranho. E o afeto estranho é o tesouro e o embate fatal contra a habitual solução cínica.