O oposto do Kitsch

O oposto do Kitsch

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

A solução cínica.


A regra de sobrevivência para uma vida solteira feliz está em manter pelo menos um amante regular aos domingos.
Essa tarefa é difícil, visto que uma vida solteira feliz exige também uma certo nível de vivência social e a manutenção da aparência desejante. Essas exigências, pela empresa em si a que se dispõem, dificilmente permitirão que se possa encontrar o amante regular várias vezes durante a semana. O desejo do solteiro sobrevive da novidade, enquanto a vida feliz depende da difícil tarefa de um bom domingo. O solteiro vai a festas em busca de seu grande amor, de uma paixão, ou de simples diversão, e se não os encontra, corre o risco de ter que atravessar o letal dia de domingo como solteiro, e o que pode ser pior, na companhia de seus amigos solteiros. A única possibilidade dele atravessar o dia de domingo feliz, com um certo grau de realização e com disposição para começar a semana está em passar o dia com o seu amante. E que comece cedo, antes da morbidez científica desse dia bíblico. O amante regular dos domingos é o bálsamo, por assim dizer, de uma pequenina felicidade que se garante. A ele não se deve cobrar nada, nem um telefonema, nem atenção, e muito menos que retorne. O que deve haver é uma comunicação exclusiva, intensa e sexualmente subliminar. Esta relação deve prosseguir não como um ato vulgar, pornográfico, mas através de pequenas barganhas: uma simulação de amor durante o beijo mais intenso (que pode funcionar através de uma troca de olhares naquele instante) ou a simulação de uma vida íntima, através por exemplo de uma massagem em partes menos sensuais do corpo, como fazem os casados. Não se "dá uma" com o amante regular (isso já é parte de outra categoria: a "ff"). O que se produz com essa criatura é uma intensidade só dos dois, da qual possivelmente ambos dependerão por muito tempo. O amante regular do fatal dia de domingo é como uma simulação, uma virtualidade do amor. É, portanto, duas vezes um engodo e um contrato cujas cláusulas deixam clara principalmente a importância de se compartilhar "fraquezinhas".

2 comentários:

fabio disse...

e quando nem assim se consegue esse moderado grau de realização, bebemos o seu sangue [o do amante], tal como vellini.

Um Céu LiLás disse...

Ai, os domingos. os amantes. os blogs que ficam sem atualizações!!!

Beijo!